Onze mortes em latrocínio no Pantanal




Seis pessoas, entre elas uma menina de 11 anos,  executadas a golpes de faca foi o saldo da chacina ocorrida no Pantanal, em 11 de dezembro de 1878, com grande repercussão no Estado. Os detalhes do bárbaro crime são mostrados em reportagem do jornal A Província de Matto-Grosso, de Cuiabá:

Na noite do dia 11 de dezembro próximo passado, uma comitiva composta de 11 pessoas, entre homens e mulheres, dirigia-se à mata de poaia para trabalhar na extração dela e fez pouso na barra do rio Branco em uma das margens do rio Paraguai, em o lugar denominado - pantanalzinho.

Adiantada a noite, e já quando todos dormiam, José Beatriz, correntino e Gaspar Agueiro - paraguaio, coadjuvados por Maria Luiza, correntina e Estanislada Carvalho, paraguaia, sendo esta amásia de Gaspar e aquela de José Beatriz, assassinaram barbaramente a Mariano Ferreira da Costa, brasileiro, com sete facadas, Clementina Izidro do Nascimento, brasileira e amásia de Mariano, com seis facadas, Josefa de idade de 11 anos, brasileira, afilhada de Clementina, com uma facada, Bruno Joaquim de Oliveira, brasileiro, irmão de Mariano, com diferentes facadas, Maria Garcia, brasileira, amásia de Bruno, com seis facadas e Antonia de tal, brasileira e idosa, mãe de Bruno, com diferentes ferimentos, ficando com vida o brasileiro de nome Benedito, de seis anos de idade, afilhado de Bruno, que foi conduzido pelos assassinos.

Uma carta escrita de S.Luiz de Cáceres em 10 de janeiro último, pelo sr. João da Silva Porto, dono dessa expedição, narrando este fato, diz que calcula o seu prejuízo em 3 a 4 contos de réis, e que os criminosos, concluída a carnificina, saquearam o acampamento e apoderando-se do dinheiro que havia e dos melhores objetos dos despojos, embarcaram na melhor canoa e puseram-se em marcha dia e noite com direção à baia de Gahiva.

No dia 13, passando por acaso uma canoa no lugar do delito, observaram os que nela iam, que ali achava-se uma pilha de corpos humanos guardados apenas por alguns cães; e dirigindo-se ao lugar denominado Cachoeirinha (2 voltas rio abaixo) onde moram os pais de Mariano e Bruno, ali chegados, deram parte do que tinham visto.

Estes, surpreendidos e cheios de mágoa e aflição com semelhante acontecimento, puseram-se a caminho com os demais filhos e alguns moradores a fim de darem sepultura aos cadáveres que já se achavam em estado de putrefação, tendo notado que todos os ferimentos foram praticados sobre o estômago.

No dia 15 o inconsolável pai, enviou dois filhos a essa cidade (S. Luiz) para darem parte deste sucesso, e no mesmo dia as 2 horas da tarde, a autoridade policial teve conhecimento do fato cujas providências não se fez esperar, porque incontinenti o respectivo delegado fez marchar uma escolta com destino até Corumbá, composta de quatro praças, um oficial de justiça e mais dois paisanos, que voluntariamente se ofereceram, sendo um destes, pai do menor Benedito.

Tudo porém foi baldado, porque no dia que a escolta saiu daquela cidade para a de Corumbá foi o dia em que os criminosos chegaram a Cahiva e, sem perda de tempo, trataram de vender a um inglês que ali mora, a canoa em que fugiram, a troco de um boi cargueiro, para conduzir o espólio roubado, fazendo ao mesmo inglês, presente de garrafões de aguardente. Nesse mesmo dia 15 tomaram um boliviano prático da estrada de Santo Coração e seguiram viagem para a Bolívia, porém vendo que a marcha do boi lhes atrasava a viagem deixaram-no ficar.

Procuraram também ver se vendiam o menor Benedito, mas não podendo efetuar a sua venda, conduziram-no.

A escolta chegou de volta no dia 7 de janeiro próximo passado, e conta que esses malvados com o maior cinismo contaram na Gahiva o crime que haviam praticado, tal qual como se dera.

Finalmente estão esses criminosos em salvaguarda no território boliviano.

Se continuar aberta a estrada da Gahiva, sem ter ali um destacamento, ou tomar-se outras providência, certamente este exemplo será seguido e assim tornar-se-á ela o apoio dos criminosos, desertores e escravos fugidos, acrescendo ainda a pouca segurança que se oferece aos patrões que trabalham com camaradas nas matas de poaia.

FONTE: jornal A Província de Matto-Grosso (Cuiabá), 9 de fevereiro de 1879. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Criado o Território Federal de Ponta Porã

Chacina na fazenda Conceição: polícia trucida 16 oposicionistas

Inaugurada a primeira Casa da Mulher Brasileira